O campo dos Estudos Africanos resulta de modelos de interpretação divergentes em seus fundamentos teóricos, conceituais e mesmo epistemológicos, em seus respectivos âmbitos de produção, difusão e recepção, na África e fora dela. Assim, convém distinguir a existência de pelo menos duas formas gerais de percepção da realidade africana, assim definidas pelo sociólogo brasileiro Fábio Leite:
“A primeira, que se pode considerar periférica, vai de fora para dentro e
chega à África-objeto, não a explicando adequadamente. Essa opção é típica da
visão ocidental que, com honrosas exceções, está disseminada e imposta por
toda parte, inclusive na África. A segunda, pouco considera a anterior e faz
considerar a visão interna, vai de dentro para fora e revela a África-sujeito, ou
seja, a África da identidade originária, ancestral, mal conhecida, oferecendo
interpretações outras do mundo, surpreendentes e distantes das banalidades”.
Esta distinção metodológica torna claro um dos pontos nebulosos da abordagem dos problemas africanos, a questão do lugar dos enunciados e dos sujeitos envolvidos na constituição e difusão do conhecimento sobre a África. Não se trata, como pode parecer à primeira vista, de opor simplesmente uma visão criada fora, eurocêntrica, a outra, produzida internamente, mas de avaliar que lugar é reservado aos africanos como sujeitos de seu próprio destino e que interpretações levam em conta o modo de ser africano no mundo. Além disso, tal distinção obriga-nos a considerar o que os especialistas africanos e não africanos entendem como o seu campo de estudo e pesquisa. Ao insistir numa abordagem crítica de estudos, reflexões, debates e pesquisas sobre a África, conviria portanto reconhecer a existência de pelo menos três diferentes perspectivas de abordagem.